Hoje tem se tornado cada vez mais comum encontrar pessoas interessadas em refletir sobre suas carreiras e encontrar felicidade no trabalho.
Segundo Zygmunt Bauman (2004), houve uma época na história da humanidade em que não se esperava que o trabalho trouxesse felicidade ou causasse prazer ao empregado. A ideia de satisfação no trabalho parece ser algo caraterístico dos tempos modernos. Hoje é importante encontrar realização no trabalho e as pessoas desejam isso.
O que nos traz o sentimento de realização no trabalho? Para cada pessoa, a resposta pode variar, mas ela estará inevitavelmente associada, segundo alguns teóricos, com encontrar um sentido (ou propósito) para o que se faz e com o grau de alinhamento entre valores e trabalho.
Os filósofos e psicólogos existencialistas do século XX evidenciaram a importância sobre a consciência de como nos colocamos frente aos acontecimentos de nossa vida. Nós, seres humanos, temos a escolha de nos posicionarmos de uma ou outra maneira, mesmo diante de situações bastante restritivas.
É típico do humano a capacidade de auto-transcendência, ou seja, a capacidade de ir além de si mesmo, através da busca de sentido para sua existência e a liberdade de escolher como se posicionar. Viktor Frankl (1989) escreve que “o homem é livre para fazer com que uma situação seja significativa: ou por aquilo que ele faz com ela, ou por aquilo que extrai dela”.
O sentido da vida é pessoal, único e insubstituível e, porque depende de um contexto específico, é irrepetível. O sentido da vida é o que dá forças e também a sensação de que a vida vale a pena.É através da consciência que podemos encontrar o sentido.
Diz FRANKL (1989): “ser-homem é ser-consciente de seu ser-responsável” . Só assim: “o homem responde às questões que a vida lhe coloca e, por tal via, realiza os significados que a vida lhe oferece” . (FRANKL, 1989). Não há situação que careça de sentido, se vivida com responsabilidade.
Assim, encontrar sentido para o trabalho é possível quando escolhemos como nos posicionar diante dele – o que tiramos dessa experiência e o que construímos a partir dela. O trabalho também pode ser um canal de expressão de nosso potencial criativo. Se a criatividade é entendida como uma potencialidade humana que “representa a emergência de algo único e original” (ANDERSON, 1965 apud ALENCAR, 1986), pode-se considerar a resposta pessoal do homem frente ao trabalho como um fenômeno criativo.
Claramente o trabalho, assim como pode ser expressão do potencial criativo e de um propósito, pode estar a serviço da escravidão e do empobrecimento psíquico. Sabemos que isso também é possível.
O coaching voltado para questões de carreira visa estimular a reflexão sobre a relação do indivíduo com o trabalho, e sobre sua escolha de carreira. Neste processo, o cliente irá pensar sobre seu propósito de vida, sobre seus valores, sobre suas competências e relacionar tudo isso com suas escolhas de carreira e com seu trabalho.
Temos visto casos de pessoas que optam pelo coaching de carreira para definir sua profissão ou planejar seus primeiros passos profissionais. Outros, já avançados em sua trajetória profissional, mas sentindo certas insatisfações com o momento atual, buscam o coaching para refletir sobre suas escolhas e planejar um possível redirecionamento de carreira. Outros ainda podem optar pelo coaching de carreira em um momento de crise profissional, por exemplo, após um processo de demissão doloroso, quando sentem a necessidade de reavaliar suas escolhas, antes de retomarem suas carreiras.
ALENCAR, E.M.L.S. de. Psicologia da criatividade. Porto Alegre, Ed. Artes Médicas, 1986. p.11-35.
BAUMAN, Z. Amor líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2004.
FRANKL, V. E. Psicoterapia e sentido da vida: fundamentos da logoterapia e análise existencial. 3. ed. São Paulo, Quadrante, 1989.
Meiling Canizares
Meiling Canizares é Sócia Diretora da M'Canizares e possui 20 anos de experiência em desenvolvimento humano e organizacional.
Meiling Canizares
Meiling Canizares é Sócia Diretora da M'Canizares e possui 20 anos de experiência em desenvolvimento humano e organizacional.